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domingo, 26 de maio de 2013

E os que nunca ouviram?



Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? Romanos 10:14

Um dos problemas lógicos que aflige a muitos crentes com uma cosmovisão frágil a respeito da doutrina da salvação (falo com amor, pois já fui um deles) é a eterna questão: se Deus possibilita salvação a todos, como, então, será a situação dos que nunca tiveram a oportunidade de ouvir sobre Jesus e sua obra no dia do Juízo? Existem três posições que alguém poderá tomar diante de tal questionamento. 1) manter a dúvida. 2) aceitar que Deus os julgará segundo a “luz” que receberam. 3) Aceitar que Deus as encerrou eternamente em condenação. Analiseremos cada uma destas respostas bem como a própria validade da questão.

Iniciei dizendo que esta questão surge de uma cosmovisão frágil das Escrituras; pois é exatamente isto que se sucede. Todos os que tem esta dúvida não tem uma compreensão sólida do ensino das Escrituras a respeito da Salvação e, portanto, não conseguem respondê-la com objetividade. Uma questão que é difícil na cosmovisão arminiana (a que crê que Deus deu possibilidade de salvação a todos, cabendo ao homem livremente aceitá-la ou rejeitá-la, exercendo seu livre-arbítrio) é facilmente solucionável na cosmovisão reformada ou calvinista.

Quero demonstrar, de início, que biblicamente esta questão começa de pressuposições erradas, portanto, não tem qualquer validade racional. O motivo desta minha asserção é simples: o questionamento inegavelmente surge da pressuposição de que Deus quer salvar todos os homens e ofereceu possibilidade de salvação a todos. Se esta premissa for falsa, não haverá sequer espaço para a pergunta “e os que não ouviram?”.

São Paulo afirmou “Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.” (Romanos 9:17-18). Paulo está, neste texto, defendendo a doutrina da Eleição Incondicional, pela qual afirma-se que Deus determinou previamente os que seriam salvos e os que seriam condenados. Desta forma, a humanidade estaria separada em duas classes de pessoas, aquelas destinadas ao céu e aquelas destinadas ao inferno. E Deus, segundo Paulo, tem total direito de fazê-lo, sem que nós ousemos reclamar, pois Ele é justo e nós infratores e merecedores de condenação. É por isso que disse São Lucas que “creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna” (Atos 13:48). E também o próprio Paulo aos efésios, quando diz “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade.” (Efésios 1:3-5).

Fica evidente, portanto, que Deus tem pleno direito de eleger pessoas para condenação e pessoas para salvação. Isto não fere seu caráter, ao contrário, o confirma, pois Ele é infinitamente justo e infinitamente santo. Dado que a premissa para a polêmica questão foi destruída, vemos que ela não tem qualquer base racional. Vamos supor, por um momento apenas, que a premissa seja verdadeira. Analisemos, então, as três respostas que se podem dar a tal controvérsia.

1. Manter a dúvida. Atitude desaconselhável. “Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento.” (Provérbios 3:13).

2. Deus os julgará segundo a luz que receberam. Esta resposta invariavelmente leva você a cometer uma heresia. O Apóstolo Pedro nos afirmou que “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (Atos 4:12). Paulo, em Romanos 10:14 (o texto do começo do artigo) coaduna com a doutrina da exclusividade de Cristo, pois supõe que os pagãos que não ouviram ainda não creram. E sequer poderão crer se não ouvirem. Ainda em Romanos 3, Paulo afirma a depravação de todos os homens, e Jesus em João 3 afirma que quem não crê no Filho já está condenado e que sobre tal homem permanece a ira de Deus. Fica difícil, diante de tamanha evidência bíblica, suportar uma resposta que afirme que alguém pode ser salvo sem ouvir de Cristo. Não obstante, os que afirmam isso baseam seu ensino em Romanos 2:10-16, onde se lê:

"Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego; Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas. Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho." Romanos 2:10-16 

Os que gostam de citar este texto frequentemente frisam os seguintes trechos: “Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas” e “não tendo eles lei, para si mesmos são lei”. Pois bem. A afirmação é a seguinte: Deus colocou um pouco de sua Lei no coração do índio americano que nunca ouviu falar de Jesus de modo que este índio será julgado por esta lei, e pode ser salvo se a cumprir. Agora, o que tais pessoas não percebem, ou desonestamente não gostam de frisar, é a parte do texto onde Paulo afirma “Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão”. Ora, o propósito de Paulo neste texto jamais foi provar que os gentios podem ser salvos sem Cristo, apenas cumprindo a lei escrita em seus corações, outrossim ele contradiria a si mesmo e ao Evangelho. O propósito dele é afirmar que exatamente porque Deus colocou esta lei em seus corações, todos estes gentios serão condenados, pois tornam-se indesculpáveis. A tolice do argumento fica ainda mais evidente quando notamos que se um gentio pode ser salvo cumprindo a lei de seu coração então devemos concluir que um judeu pode ser salvo cumprindo a Lei mosaica. Evidente é que, tanto para um, como para outro, cumprir esta Lei é impossível e, portanto, todos estão debaixo de condenação. O argumento que Paulo inicia ao afirmar que “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei” é exatamente para provar que eles têm a lei implantada em seus corações, não havendo injustiça nenhuma em Deus condená-los.

3. Aceitar que Deus os encerrou eternamente em condenação. Esta é, para surpresa de muitos, a posição que devemos sustentar se queremos seguir o que nos ensina a Palavra de Deus. Lembrando sempre de confiar em Sua soberana vontade. Deus é justo, nós não. Portanto, Ele define o que é justiça, não nós.

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