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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Ira Sem Motivos



Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco [tolo, ímpio, desgraçado, condenado, maldito], será réu do fogo do inferno. (Mateus 5:21-22)

É de extrema importância entendermos o sentido deste texto. John Gill em seu comentário bíblico nos elucida que nem todo tipo de ira é aqui proibida. Pois diz "existe uma ira que não é pecaminosa, é em Deus, em Cristo, nos santos anjos; e é mesmo desejável entre o povo de Deus, quando se levanta de um verdadeiro zelo pela religião, a glória de Deus, e os interesses de Cristo; e é dirigida ao pecado, seu próprio, ou de outrem, os vícios, falsas doutrinas e falsa adoração: mas é aqui Cristo condena a ira sem causa como quebra da lei 'não matarás'."

A seriedade deste mandamento deve ser considerada por todo aquele que diz professar o nome de Cristo. Cólera, ira, perda de controle NÃO fazem parte do comportamento de um homem ou mulher nascidos de novo. Nos é dito por meio do apóstolo "aparte-se da iniquidade todo aquele que professa o nome de Cristo."

O ensinamento de Cristo aqui basicamente é que o sexto mandamento, "Não matarás" não restringe-se apenas a um indivíduo tirar literalmente a vida de outrem. Gill explica que o significado do texto depende da expressão "sem motivo".

Esta frase qualifica e explica os três casos a seguir:

1) "encolerizar-se"; isto significa irar-se, ficar com raiva, mesmo que por instantes, de alguém sem motivo JUSTO. Isto certamente abrange pecados de falta de domínio próprio e casos onde por pequenas causas transformamos nossos semblantes e formas de agir. Ainda que não façamos ou digamos nada, somente este sentimento nos torna culpados diante do Deus Altíssimo. Mas não para por aí.

2) "Raca"; esta expressão tem conotação de extremo desprezo e manifestação de ódio. Gill afirma que leva o sentido de "cospir em", o que, bem sabemos, indica em grande desprezo pela dignidade alheia. Note que é válido aqui afirmar o que Deus disse a Noé após o dilúvio: "Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem." (Gênesis 9:6). Note que o mandamento "Não matarás" foi justificado pelo fato de que Deus fizera o homem à sua imagem e semelhança. O homem, ímpio ou justo, carrega em si a "imago Dei", isto é, a Imagem de Deus em si. Ofender e desprezar o nosso próximo, seja ele quem for, constitui, portanto, uma ofensa GRAVÍSSIMA ao Deus Eterno. Devemos tremer diante da menor possibilidade de que isso se abata sobre nós!

3) Louco; o termo aqui, prossegue Gill, não necessariamente quer dizer pessoa sem sabedoria ou conhecimento (tolo, como em algumas traduções). O termo é mais abrangente e significa "ímpio", "desgraçado". Novamente, entendemos isso a luz da expressão "sem motivo". Prosseguindo em sua ira interior, e em seu desprezo inicial manifestado, o assassino, segundo Jesus, pode ainda chegar ao extremo de, sem motivo, ou por motivo injusto, desprezar a condição espiritual e a dignidade do próximo. Termos como "desgraçado", "condenado", "tolo", "perdido", "madito" e semelhantes, carregados do qualificador "sem motivo" tornam o homem que os usa contra outrem CONDENÁVEL AO INFERNO.

Os versos seguintes aos versos que lemos ainda afirmam que se alguém for adorar a Deus com ofertas e tiver "algo contra seu irmão", que deixe sua oferta e concilie-se com ele. Sem dúvida, eu afirmo que é caso grave, passível de disciplina eclesiástica severa, um cristão agir como um assassino, colerizando-se sem motivo. Se este é seu caso, não ouve entrar numa igreja sem se arrepender. Santo Ambrósio de Milão proibiu o Imperador de Roma, sim, o IMPERADOR de Roma (!!!), de fazê-lo pois ele havia matado injustamente. Assim, como quem faz o descrito acima é culpado de matar, eu exorto que a mesma pena aplicada por Ambrósio nos deve servir de alerta e ensino.

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