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terça-feira, 7 de agosto de 2012

O Último dia da Festa


No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado.
João 7:37-39 (ARA)


Era a Festa dos Tabernáculos em Israel. Um tempo em que, alegremente, todo aquele povo aglomerava-se em Jerusalém para as celebrações costumeiras. O “sucot” ou Festa dos Tabernáculos ou Cabanas é a celebração judaica em memória dos quarenta anos que se seguiram à saída do povo de Israel do Egito. Você deve lembrar bem que neste tempo Israel não tinha habitações fixas, antes, andavam errantes, e andavam pelo deserto.

Antes que esta especial celebração terminasse, que a alegria da diversão se esvaísse até o próximo ano ou até a próxima festa, Jesus aproveitou-se da oportunidade, com todo o seu simbolismo, para publicamente proclamar o que acabamos de ler em nosso texto. É de se notar que a festa dos tabernáculos remonta ao exílio no deserto após o êxodo, e de que Jesus faz uma promessa que tem exatamente a ver com este assunto: ele promete água!

Onisciente que era, nosso Senhor certamente conhecia a necessidade mais interior do homem. Ele olhava aquela multidão de pessoas celebrando naquele lugar, diante do Templo de Jerusalém e certamente não olhava o exterior delas. Ele via seu interior. Por fora, alegres e dançantes, conjecturo eu, afinal, era uma festa. Por dentro porém, lhes faltava algo. Eles estavam secos, peregrinando por um deserto infinito, o deserto espiritual em que se encontra todo aquele que não tem Deus.

Sabedor que era desta necessidade, Jesus então surpreende a todos e, antes que partissem, ele proclama em alto e bom som aquela que é a essência da mensagem, o convite do evangelho:

Se alguém tem sede, venha a mim e beba

O que será que se passou na mente do povo ao ouvir estas declarações? Que questionamentos? Quais indagações? Jesus então continua, e elucida sua afirmação inicial:

Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.

Que rios? Que águas? Do que falava Jesus? Por que não ser mais claro!? Sem dúvida, afirmo, Jesus não poderia ter sido mais claro. Aqueles que estavam cônscios de sua própria sede, que sabiam que necessitavam que alguém os acudisse, sim, os eleitos de Deus, os que haviam de ser salvos, esses sim entenderam perfeitamente o que Jesus queria dizer.

Jesus falava do Espírito Santo. E ao dizer isso, intrinsecamente ele falava da Salvação – pois sabemos que o Espírito só habita nos salvos. João, o autor do evangelho, explica “Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem”. Quero expor hoje alguns ensinamentos de Jesus que podemos extrair das Escrituras com respeito aos “rios de água viva” que fluiriam do interior daqueles que cressem. Com respeito a isso, alguns questionamentos podem surgir:
  1. Que são estes rios?
  2. Como posso saber se ele está presente em mim?
  3. Que espécie de obra ele opera em nós?
  4. Como posso receber estes rios dentro de mim?

  1. Que são estes rios?
O primeiro ensino que desejo expor é a natureza real dos “rios de água viva”. João mesmo nos explica que estas águas que certamente saciariam a sede dos que cressem simbolizavam o Espírito Santo. A promessa de Jesus era de que Ele seria glorificado, mas através do Espírito Santo, habitaria em nós, juntamente com o Pai.

A presença interior do Espírito Santo é a certeza que o crente possui de sua filiação. É o selo, a marca que atesta nossa eleição em Deus. Não se engane. O Espírito jamais habitará a quem Deus não elegeu. E aos que elegeu, não só habitará, mas o preservará finalmente, apresentando-o santificado e digno de ouvir “vinde benditos de meu Pai” da boca do Mestre. Este Espírito é aquele que, no tempo oportuno, regenera o coração do homem caído, o chama eficazmente e concede a ele fé para que possa crer. Este Espírito vem então habitar no crente, operando uma obra de completa transformação, isto é, santificando o crente, capacitando-o cada vez mais a vencer o pecado, e formando o caráter de Cristo em Sua Vida. Este Espírito testifica ao crente sua filiação. Não o deixa perecer. Mesmo no dia mais nebuloso, no meio da mais forte tempestade, o Espírito Santo guia nossos olhos para o Autor e Consumador da nossa fé, que é Jesus Cristo.

Este é o “outro Consolador” prometido por Jesus. Ele está conosco nas horas mais difíceis, e nas fáceis também! É aquele que intercede por nós, pois não sabemos como se deve orar. É aquele que livra nossos olhos de sua própria concupiscência, que nos fortalece quando o pecado vem como um algoz a nos tentar fazer negar a Cristo. Este Espírito, é, aliás, aquele que nos levanta quando cedemos a tão terrível tentação e, mesmo estando sujos pelo pecado, ele tem o remédio: nos mergulha no sangue de Jesus derramado na Cruz, e ao levantar, estamos limpos outra vez. Este Espírito glorificará sempre Aquele que deu a vida por nós, Jesus Cristo. Nos conduzirá a Ele, a crer nEle, a confiar nEle, a descansar nEle. Este Espírito fluirá em nós, e através de nós, para não somente benefício nosso, mas para tantos quantos estiverem ao nosso redor.
  1. Como posso saber se ele está presente em mim?
Um questionamento comum que atormenta diariamente muitos cristãos sinceros é este: sou verdadeiramente um filho de Deus? Sou salvo? Sem dúvida esta questão transcende a barreira entre calvinistas e arminianos. É infantil afirmar que calvinistas tem certeza da salvação por que creem na eleição incondicional¹ e perseverança dos santos² e os arminianos, por não entenderem assim, não tem esta certeza. Segurança é uma benção, uma graça que advém tanto a arminianos como a calvinistas; e como uma graça, uns podem possuí-la em alto grau, outros nem tanto. Uns, mesmo a tendo, podem perdê-la por um tempo, devido a alguma tempestade, mas, com tudo isso, o que quero que entendam é que a certeza de nossa salvação advém da certeza da presença do Espírito em nós. Por isso, é válida a pergunta: como saber se ele está em mim?

Vamos tentar responder a esta pergunta, mas não sem antes pontuar sobre um assunto que, creio, trará alívio a muitas almas. Vejamos alguns dizeres do Apóstolo Paulo:

Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.
Romanos 8:29-30 (ACF)

É de fundamental importância que a Salvação é garantida para todos os eleitos e predestinados em Cristo, quer eles saibam disso ou não, quer eles tenham segurança ou não. Portanto a você, irmão, imerso em dúvidas, não desejo que Satanás ardilosamente enfraqueça sua fé. Confie em Cristo, só nEle. Isto lhe será por garantia de salvação, ainda que seus pecados lhe assombrem e, como convém a um santo, você não veja bem algum em si, e tenha dificuldades de sentir certeza de sua salvação, não temas. Saiba que aquele que lhe conheceu desde antes da fundação do mundo, na eternidade, este mesmo o glorificará, também na eternidade. De eternidade a eternidade, se encontra o propósito de Deus na salvação do homem. Aleluia!

Voltemos agora à nossa questão primordial: como saber se o Espírito habita em nós. Em primeiro lugar, como já expliquei, o fato de termos dúvidas não é indício de que Ele não habite em nós. “Há incredulidade até em nossa fé”, disse Spurgeon³. Tal qual a nascente de um grande rio é tímida em meio a densas árvores, e do alto talvez não a enxerguem, isso não é indício de que a nascente e o rio não existam. Assim também, gradativamente, a obra do Espírito Santo se fará conhecida em sua vida, mais rapidamente à vista dos outros, talvez, do que à sua própria vista.

Jesus disse “quem crer em mim do seu interior fluirão”. Sem dúvida, estas palavras do Mestre devem soar como alento, um descanso para nós. E por quê? Pois ele afirmou, sem deixar sombra de dúvida, de que o Espírito estaria presente na vida de todos aqueles que cressem! Se você deseja saber se o Espírito habita em você, se ele flui em sua vida, examine-se a si mesmo: você crê em Jesus? Você entende, e confia na obra de redenção que Ele realizou por você? Você sabe que não habita bem algum em você, e não fosse pela graça de Deus você estaria perdido em seus próprios pecados? Você, mesmo cheio de dúvidas e assombrado pelos seus pecados, que lhe ferem e lhe fazem sentir o mais miserável dos homens, mesmo assim, quando dobra-se diante do Pai sabe pedir perdão e sua única garantia e confiança é a Cruz e o que ela representa? Sim, meu irmão; se a sua resposta a isto é “sim”, então você crê. E se você crê, você tem o Espírito Santo. São palavras de Jesus, e não minhas.

Vale aqui dizer, neste ponto, algumas palavras com respeito a um engano comum nas igrejas de hoje, em especial nas carismáticas e pentecostais. Reconheço o saldo positivo do movimento pentecostal/carismático. Sou um de seus “filhos”. Creio na atualidade dos dons do Espírito Santo. Entretanto, há um aspecto na teologia pentecostal que traz um fardo desnecessário para muitos crentes. Desnecessário e antibíblico. É uma tricotomização da raça humana; Quando, na verdade, a Bíblia a divide em duas partes, a saber, salvos e perdidos, eleitos e réprobos, os que tem fé para salvação e os incrédulos, os que tem o Espírito Santo, e os que não têm, os pentecostais insistem em dividir os homens em três grupos, a saber, os não salvos, os crentes ainda não batizados com o Espírito Santo e os crentes mais fortes, revestidos de poder, isto é, os batizados com o Espírito Santo. Devo afirmar que a Escritura não apoia tal distinção. Atente às palavras de Jesus hoje: “quem crer”, ele disse. Quando você crê, o Espírito vem habitar em você, e basta. Muitos por não falarem em novas línguas são como que segregados em algumas igrejas. Vez ou outra referem-se a eles como se lhes faltasse algo, quando não lhes falta nada! Não se deixe levar por essa ilusão. As palavras de Jesus Cristo no último dia da festa garantem a você, meu irmão: se você crê, você possui o Espírito Santo habitando dentro de você. Dons são acréscimos, não para todos. Uns tem um dom, outros tem outro dom. Uns tem dons externalizáveis, outros não. Mas de todos, garanto-lhe, fluirão rios de água viva!

Outro aspecto que nos prova a presença do Espírito Santo em nós é sem dúvida o fruto que esta presença produz. Vejamos o que disse o Apóstolo Paulo a respeito deste assunto.

Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.
Gálatas 5:22 (ACF)

Amado irmão, queres ter prova inconteste da ação do Espírito em sua vida? Pare agora e examina-te a ti mesmo. Busque em sua vida o menor resquício da presença destes frutos. Busque, não uma presença estática, mas algo dinâmico. Algo que vem se desenvolvendo. Avalie-se você mesmo a alguns meses atrás. Avalie o estado de sua alma durante este período. Houve crescimento?

Você ama mais? Sente uma necessidade de escolher fazer algo pelos perdidos e necessitados deste mundo? Ainda que neste amor haja apatia e falta de coragem para agir no começo, ou certa timidez. Este amor existe? Existe, ainda, um amor por Deus como não havia dantes? Você tem se inclinado e desejado conhecer mais a Deus, e à sua Palavra? Tem buscado relacionamento mais profundo com o Pai? Tem buscado estar mais longe do pecado, ainda que a presença dele o faça sentir-se longe de Deus muitas vezes, e te leva a pensar que não amas a Deus?

Você sente uma nova alegria dentro de você? Mesmo na tempestade da vida, quando por vezes seu barco aparenta estar indo a pique, quando você peca e passa pela sua mente “agora foi o fim, não há mais perdão para mim”, ainda assim há algo que te impele a buscar em Deus o perdão e, confiando na obra da Cruz, feita por Cristo, você enche-se de alegria por tê-lo recebido? Isso é para você a força motriz para continuar a dura caminhada?

Mesmo sabedor de que em ti não habita bem algum, você sente paz com Deus? Confia que Jesus Cristo lhe comprou esta paz com Seu sangue, ao suportar sobre Si a ira divina, ira que era destinada a nós? Esta paz que advém do perdão lhe impulsiona a ser alguém mais longânimo, ou seja, perdoador, alguém que preza pela paz e boa convivência, que suporta quieto os defeitos dos outros? Tens percebido um desejo de ser bom com o próximo? Teu coração dói mais quando sequer lhe passa pela cabeça a possibilidade de teres ferido alguém?

Cristo é sua Rocha? Você confia nEle de todo seu coração? Confia que não sendo você portador de bem algum, sua única esperança é depositar nEle toda a esperança? Esta é sua fé? Centrada em Cristo?
Tens percebido uma inclinação para mansidão no teu caráter? Você, ainda que no íntimo, odeia contendas, brigas, rixas e dissenções de qualquer tipo? Mesmo com suas falhas, percebe este comportamento em seu ser?

A temperança, e o desejo por ela tem se tornado realidade em sua vida? Tem buscado ser mais moderado em qualquer hábito? Tem lutado contra sua própria carne para vencer os desejos perversos, sensualidade, hábitos ruis, enfim, tudo o que é mau aos olhos do Senhor?

Se estes frutos estão persentes em tua vida, meu irmão, tome por certo que o Espírito está trabalhando em ti. Mas preciso te alertar. Talvez você veja um ou outro fruto com certa dificuldade. Talvez tenha ficado na dúvida ao responder sim. Mas saiba que a obra do Espirito é gradual. O homem santificado tem sim dificuldades de ver esta obra em si mesmo no início. Não se iluda de que por que você falha em um destes pontos você não tem o Espírito. Não! Posso te afirmar que feliz é aquele que sempre sabe que falha constantemente em todos estes pontos! A questão não é se você é completamente longânimo ou temperante, ou manso e fiel. Ninguém o será até sermos glorificados. A questão é: a falta disso dói em sua vida? Você luta para crescer em santidade? Percebe a ação do Espírito em frutificar estas virtudes em ti ainda que de forma tímida? Se a resposta a estas perguntas forem sim, então alegre-se em ver que o Espírito está trabalhando em você.
  1. Que espécie de obra ele opera em nós?
então ele [Deus] nos salvou – não porque fôssemos suficientemente bons para sermos salvos, mas por causa da sua bondade e compaixão, pelo lavar regenerador e renovador dos nossos pecados por meio do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós com maravilhosa abundância – e tudo por causa daquilo que Jesus Cristo, nosso Salvador, fez, a fim de que ele nos pudesse declarar justos aos olhos de Deus – tudo por causa da sua grande graça, tornando-nos seus herdeiros. E agora podemos participar da esperança da vida eterna que ele nos dá.
Tito 3:5-7 (Nova Bíblia Viva)

Lavar regenerador e renovador do Espírito Santo. Estas palavras resumem a resposta ao questionamento em questão: “Que espécie de obra o Espírito Santo opera em cada pequenino cristão?” Mais uma vez sendo representado figurativamente como água, nos é dito que o Espírito Santo nos lava. E esse lavar produz em nós dois resultados, a saber, a regeneração e renovação interior.

Antes de ser chamado eficazmente pelo Espírito Santo, o crente era alguém cego, miserável, caminhando sem aviso para um abismo sem fim, tendo vendada sua visão, para que não visse, e sua audição, para que não ouvisse. Morto em seus pecados, imerso em iniquidade. Abertamente em oposição a Deus e a Seu Cristo. Merecedor de justa condenação. Sem conhecimento de Deus ou vontade de segui-lo, sequer se dava conta de sua pecaminosidade.

Todo este terrível quadro é transformado por completo quando o Espírito Santo vem habitar nesta pessoa. De imediato, e sobrenaturalmente, este ser totalmente averso a Deus e amante de seus pecados, agora é regenerado. Esta palavra quer dizer “gerado novamente” ou “nascido de novo”. Agora, conforme a vontade de Deus, este homem nasce espiritualmente. Onde havia o silêncio de indiferença, pois não havia vida, agora há choro de arrependimento, pois não há mais morte, e sim vida, e vida em abundância. Uma dor imensa pelo seu pecado é gerada nele. A urgente necessidade de um Salvador fica para ele evidente. Não lhe resta opção nenhuma a não ser render-se aos pés de Cristo, depositar nEle suas esperanças de salvação, ter fé. De um ser avesso a Deus, opositor e em constante rebeldia a Ele, passamos a correr a Seus pés em busca de perdão e reconciliação, confiando não em nós, pois sabemos que bem nenhum habita em nosso ser, mas confiando sempre no Autor e Consumador da nossa fé, Cristo Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Sumo sacerdote eterno, tendo feito sacrifício suficiente para lançar longe nossos pecados. Isto é ser regenerado. É o começo da obra do Espírito Santo em nós.

A regeneração é a maior obra, ou milagre, que Deus, através do Espírito Santo, pode operar na vida de um ser humano. Nos foi dito, através da exposição da Palavra, que Deus nos dá esta benção graciosamente, sem haver nenhum merecimento ou obra de justiça que creditasse mérito em nosso favor. É o gatilho inicial da Salvação do homem. É quando Deus opera o “querer”. É também quando Ele “começa a boa obra”, ou ainda quando age como “Autor” da nossa fé. E, de tudo isso, podemos dizer que nossa Salvação será completada quando ele operar o “efetuar”, “terminar a boa obra” e tornar-se o “Consumador” da fé. Grande é esta esperança. Louvado seja Jesus Cristo por tão grande Salvação! (Filipenses 2:13, 1:6 e Hebreus 12:2).

Outrossim, também nos é dito que o Espírito Santo renova nosso ser. Após nos regenerar, e até que Cristo venha, o Espírito tem trabalhado em cada servo de Cristo. Diariamente, ele nos renova, isto é, nos capacita a obedecer a Lei de Deus. Hoje, neste exato momento, o Espírito Santo está trabalhando em cada cristão verdadeiro a fim de o santificar, a fim de fazer com que Cristo cresça em sua vida, e ele diminua. Diariamente somos levados ao arrependimento, cada dia mais profundo. Constantemente somos levados a buscar conformar nossos hábitos com Jesus, a andar como Ele andou. Sim, falhamos, mas o poder de Deus se aperfeiçoa em nossas fraquezas!

Ah leitor, cuide para que seu coração não venha crer que algo seja maior do que este milagre, o renovo do Espírito. Curas, livramentos, ressurreição de mortos, dons, e tudo mais que Deus possa fazer e operar em meio a seu povo, tudo isso não se compara ao milagre diário que se dá em nós: a santificação de um pecador.

Busque esse milagre cada dia, não descanse enquanto ele não começar a ser visível, e continue a lutar até o dia de Cristo. Não se engane. Nós cooperamos com Deus em nossa santificação. Justificação é um ato de Deus, onde Ele nos declara justos por causa do que Cristo fez na Cruz. Santificação é um ato de Deus, evidente, porém, ele alegra-se que seus filhos esforcem-se para obtê-las. “Portanto, meus amados, como sempre tendes obedecido, não só na minha presença, mas também particularmente agora na minha ausência, operai a vossa salvação com temor e tremor, pois é Deus quem opera em vós o querer e o operar, segundo a sua vontade.” (Bíblia de Jerusalém – grifo meu). Não permita que a apatia tome conta de si, ou espere que seus pecados desapareçam espontaneamente. Atue com Deus em sua santificação.

Existem ainda dois elementos, dua graças, por assim dizer, que precisam ser postas em exercício em nossas vidas, e são resultado inerente do lavar regenerador e renovador do Espírito Santo: arrependimento e fé.

Arrependimento é profunda tristeza e contrição de coração pela sua pecaminosidade e/ou pecado particular. O arrependimento deve nos tornar a Deus, humilhados, crendo que dEle, por Cristo, receberemos perdão. Precisamos crescer em arrependimento diariamente, estando cada vez mais cônscios de nossa pecaminosidade. Duvide de seu cristianismo o dia em que você não enxergar com facilidade a indignidade e podridão que é inata ao seu ser. Quanto mais perto estamos de Deus, e quanto mais o conhecemos, maior torna-se nosso arrependimento, ou seja, mais conscientes somos de quão merecedores da ira éramos, e de quão grande obra Cristo operou por nós.

Fé é a confiança em Cristo e em sua obra redentora. Deus, em sua graça, dotou seus eleitos com fé para a Salvação. A fé é uma graça que admite crescimento. Busque a cada dia crescer em fé, confiar e depender de Cristo cada vez mais, em cada aspecto, por menor que seja, do seu viver. Dependa de Cristo, confie em Cristo, entregue todas as suas fraquezas e dificuldades a Cristo, Não aja como incrédulos, confiando na força de seu braço. Não tente vencer o pecado sem Cristo. Não tente prosseguir em sua caminhada sem Cristo. Deixe Cristo ser tudo em sua vida.
  1. Como posso receber estes rios dentro de mim?
Esta é, para alguns, a parte mais importante de todo este texto. Talvez você tenha lido tudo até aqui de maneira passiva, sabendo de que nada disso é verdade em sua vida. “Coisa de crente”, você deve ter pensado. Entretanto, em meio a todas estas palavras sobre santificação, sobre a obra do Espírito, a esperança da Cruz, salvação e arrependimento, algo acendeu dentro de você.

Talvez, você começou a sentir a necessidade de perdão. Começou a avaliar seus hábitos e percebeu que eles não se encontravam em conformidade com os frutos do Espírito, mencionados acima no texto. Você começou a ter consciência de seus pecados, e também da falta que você tem. Você não tem estes rios fluindo dentro de você, concluiu. Se este é o seu caso, é a você que minha atenção e esforços se voltam neste momento. Não ache que foi em vão tudo o que leu ou sentiu até agora.

Quer saber como você faz para possuir o Espírito Santo em sua vida? Como fazer com que Ele faça morada em seu ser? Voltemos às palavras de Jesus na festa dos tabernáculos. Lembre-se, ele intencionava atingir pessoas como você, conscientes do deserto espiritual em que se encontram.

Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.
João 7:37 (ARA)

Quem crer, Jesus disse. Essa é a única esperança de um pecador desesperado pelo seus pecados: crer em Jesus. Alguns afirmam que não conseguem crer. Pois eu afirmo que isto é loucura. A única coisa que alguém fatigado pelo cansaço consegue fazer é descansar! Assim mesmo, ó pecador, apenas creia e descanse em Cristo! Reconhece seu pecado? Confie na obra que Jesus realizou. Tenha em mente o que esta obra fez, de modo claro:

Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. (...) Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si.
Isaías 53:5-6, 10-11 (ARA)

as iniqüidades deles levará sobre si”. Nos é dito aqui com toda clareza o que Jesus Cristo realizou na Cruz: ele retirou a culpa dos nossos pecados. E como? Lá na Cruz, o próprio Pai o feriu, despejando nEle o cálice de Sua ira. Toda a ira de Deus pelos nossos pecados, que levaríamos a eternidade suportando, Cristo a levou ali, em apenas alguns momentos. Não é de se espantar que ele, no Getsêmani tenha exclamado “se possível afasta de mim este cálice”, pois sabia que suportaria uma ira de magnitude infinita. Desta forma, maravilhosamente, quem crê em Jesus está unido a Ele, e os seus pecados não são mais levados em conta. O perdão foi comprado na Cruz por você. Creia, somente, e comece a viver uma vida com Cristo, e, como disse Jesus no último dia da festa, do seu interior fluirão rios de água viva!  

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Eleição - Uma Perspectiva Bíblica

Sem dúvida ao ouvir esta palavra muitos tremem dos pés a cabeça. Uma maioria esmagadora dos crentes atuais tem verdadeiro repúdio a qualquer doutrina que cheire à predestinação ou pareça-se com eleição. Venho dizer a você, leitor, que há não muito tempo atrás eu ainda era um desses crentes. Quero, por meio deste artigo, mostrar-lhe, pela exposição das Escrituras, como Deus abriu meu entendimento a esta maravilhosa doutrina bíblica, histórica, reformada e evangélica.

Como declaração introdutória, preciso expor algo que me fez mudar de ideia quanto a este assunto: o princípio sola scriptura. Todos nós, protestantes, ou evangélicos, se assim desejar, professamos a fé baseada na Reforma Protestante do século XVI. Desta forma, tudo o que fazemos, toda profissão de fé que elaboramos, deve estar em conformidade com o resumo da fé reformada, a saber, os cinco solas. São estes:

1. Sola Gratia (salvação pela graça somente);
2. Sola Fide (salvação mediante a fé somente);
3. Solus Christus (somente Cristo como cerne da nossa fé);
4. Soli Deo Gloria (glória e honra a Deus somente), e por fim
5. Sola Scriptura (somente a Escritura como regra de fé e prática).

Somos pecadores, sim, falhos e totalmente dependentes da graça de Deus. E um erro muito comum em nosso meio é esquecermos do sola scriptura, ou seja, não pautarmos nossa vida perfeitamente pela Palavra. Todos falhamos em certo ponto, é fato, mas devemos estar sempre dispostos a negar qualquer dogma preestabelecido, ideia formada ou mesmo experiência, se esta não se conforma com a Escritura. Este deve ser nosso foco, sempre, até que Cristo venha.

Dito isto, no decorrer deste artigo mostraremos quão abundante e clara é a doutrina da Eleição nas Escrituras, e como negar isso é ir em oposição direta à mesma. Antes, porém, vou contar-lhes como Deus me direcionou a crer nesta Verdade.

Como cristão de confissão arminiana que era, eu não conseguia chegar perto de textos bíblicos que confrontavam minhas teses preestabelecidas. Textos como Romanos 8:29-30 e Atos 13:48 me davam arrepios. Deixava-os para lá, não havendo explicação plausível. Vamos expôr estes textos. Abra sua bíblia e deixe Deus falar através dela.

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Romanos 8:29-30 (ARA)

Porque aqueles que já tinham sido escolhidos por Deus ele também separou a fim de se tornarem parecidos com o seu Filho. Ele fez isso para que o Filho fosse o primeiro entre muitos irmãos. Assim Deus chamou os que havia separado. Não somente os chamou, mas também os aceitou; e não somente os aceitou, mas também repartiu a sua glória com eles. Romanos 8:29-30 (NTLH) 

Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna. Atos 13:48 (ARA) 

Quando os não-judeus ouviram isso, ficaram muito alegres e começaram a dizer que a palavra do Senhor era boa. E creram todos os que tinham sido escolhidos para ter a vida eterna. Atos 13:48 (NTLH) 

Avalie como se sente agora. Confrontado? Talvez. Mas, embora você possa não entender, você deve concordar que o texto é inegavelmente claro, não? Juntos, estes dois textos definem a bíblica e reformada doutrina da Eleição, a saber, “que Deus escolheu em Seu conselho eterno desde antes da fundação do mundo aqueles dentre a raça humana caída que seriam salvos. Ninguém crerá e será salvo se não for eleito. Ninguém que for eleito perderá a vida eterna. A fé é a consequência da eleição, não sua causa.” Pois bem, prossigamos. A ideia ainda precisa ser desenvolvida, confesso. As implicações disso são demasiadamente abrangentes.

Voltando ao que dizia a respeito da minha mudança. Eu era alguém que cria em todos os pontos do sistema arminiano, em oposição aos do calvinismo. Não é possível, a meu ver, crer em alguns e não crer em outros. Se você crer num dos cinco pontos do arminianismo você será levado a crer nos outros quatro, se for hermeneuticamente sincero e correto. O mesmo se dá com os cinco pontos do calvinismo. Minha mudança (não direi conversão pois isso está além desta esfera de discussões; tanto quem crê como quem não crê na Eleição está salvo) começou quando comecei a ponderar mais escrituristicamente a respeito da doutrina da Perseverança dos Santos, o quinto ponto do calvinismo. Fui sempre instruído e ensinado que alguém poderia perder a salvação. Novamente, sempre olhava textos das Escrituras que defendessem essa ideia. Porém, algo passou a me incomodar. E este algo foi João 10:27-29

As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. João 10:27-29 (ACF) 

A declaração de Cristo é clara e inegociavelmente depõe a favor da doutrina da Perseverança dos Santos, isto é, aqueles que Deus chamou e salvou, jamais cairão, nem total nem finalmente, do seu estado de graça. Num reducionismo perigoso, alguns a proclamam dizendo que “uma vez salvo, salvo para sempre”.

Pois bem, depois de alguns dias de relutância, aceitei esta verdade, crendo que meu coração se aquietaria, pois estava sendo “sola scriptura”. Mas foi aí que tudo se desencadeou. Como arminiano, cria no livre-arbítrio, isto é, na doutrina de que, embora houvesse em mim pecado, eu era livre para escolher entre o bem e o mal, isto é, escolher por Deus ou pelo pecado. Muito bem; se isso é Verdade, então eu posso resistir a graça de Deus ou abraçá-la, mais especificamente falando, posso aceitar ou recusar a salvação. Mas, se depois de aceitar eu não posso sair, onde está o livre-arbítrio??? Complicado, não? Pois bem, vamos ver o que dizem as Escrituras a respeito do livre-arbítrio. Vamos a Romanos 3:

Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.(...) Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Romanos 3:10-12;23-24 (ACF) 

Como afirmam as Escrituras: “Ninguém é justo, nenhum sequer. “Ninguém jamais seguiu realmente a veredas de Deus, nem mesmo desejou verdadeiramente fazê-lo. “Todos se desviaram; todos caíram no erro. “Não há ninguém que faça o bem, nem um sequer. (…) Pois todos pecaram; todos fracassaram, e estão afastados da glória de Deus; no entanto, Deus nos declara agora justificados das ofensas que lhe fizemos, através da redenção que há em Jesus Cristo, aquele que em sua graça tira os nossos pecados gratuitamente. Romanos 3:10-12;23-24 (Nova Bíblia Viva)

Mais um choque de realidade. A Bíblia nos informa que, se deixados a nossa sorte, sequer teríamos vontade de buscar a Deus! Cai por terra, então, a farsa do livre-arbítrio. O que temos, como seres responsáveis moralmente, é a livre agência, isto é, agimos livremente, mas conformados a nossa natureza pecaminosa. Ou seja, quanto a Deus, jamais escolheríamos o que é bom!

Recapitulando, fui forçado a aceitar a Perseverança dos Santos. Agora, percebi que não havia livre-arbítrio, afirmando assim a Depravação Total, isto é, que a queda do homem atingiu a totalidade de sua existência (depravação total não refere-se à intensidade, ou seja, não quer dizer que todo homem é tão mal quanto poderia ser). Mas, se você parar para pensar, isso inegavelmente nos força a aceitar que não podemos resistir ao chamado de Deus e que, se somos salvos, foi porque Deus assim o determinou. Completam-se quatro pontos:
Total Depravação
Perseverança dos Santos
Graça Irresistível (ou Chamado Eficaz) e, por fim, o assunto em questão,
Eleição Incondicional

Falta ainda o terceiro ponto, a Expiação Particular, ou seja, a doutrina de que Cristo foi enviado para sofrer a ira de Deus pelos pecados dos eleitos, apenas, e não de toda a humanidade. Mas isso será tratado talvez em outro artigo. Por hora, basta apenas afirmar que aceito esta verdade como bíblica (ver João 10:15).

Este, meus amados, foi o caminho que eu trilhei nos passos da escola da Eleição. De fato, já posso escrever sobre ela pois a conhecia dantes, porém não aceitava. De agora em diante, exporemos aqui a Bíblia de um modo simples e claro, e deixemos as Escrituras falarem por si só. Como todo cristão honesto, ao sermos questionados sobre alguma doutrina ou ensino devemos sempre, em primeiro lugar, perguntar “a Bíblia aprova esta doutrina?” “Ela corrobora com isso?” Ninguém pode, mediante séria análise da Palavra, afirmar que a Bíblia não fala de Eleição/Predestinação. Vamos aos fatos.

Paulo, o Apóstolo, declara “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)” (Romanos 9:11 – ACF). “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça.” (Romanos 11:5 – ACF), e continua “mas os eleitos o alcançaram ” (Romanos 11:7 – ACF). Paulo ainda diz “mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais” (Romanos 11:28 – ACF) , “Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus” (1 Tessalonicenses 1:4 – ACF).

Pedro, apóstolo de Cristo, também ensinou dizendo “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição” (2 Pedro 1:10 – ACF). E mais ainda disse “Deus, o Pai, escolheu vocês há muito tempo e, por isso, sabia que se tornariam seus filhos” ou, em outros palavras, “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai” (1 Pedro 1:2 – Nova Bíblia Viva e ACF). Outra vez, Paulo torna a dizer “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Efésios 1:5 – ACF) e “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Efésios 1:11 – ACF). Em outra linguagem, “Nele, nós fomos escolhidos e predestinados como parte do plano soberano de Deus, que faz tudo conforme a sua vontade” (Efésios 1:11 – Nova Bíblia Viva).

Jesus disse “mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias” (Mateus 24:22 – ACF). E ainda afirmou “Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” (João 10:26-27 – ACF).

Paulo, Pedro e Jesus. A Bíblia, enfim, afirma em alto e bom som a maravilhosa doutrina da Eleição!

Revisado e editado em 06 de Agosto de 2012.