Vós sois o sal da
terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta
senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo;
não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a
candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que
estão na casa. Assim resplandeça a vossa
luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso
Pai, que está nos céus.
Mateus 5:13-16
Chegamos
a um tempo na nação brasileira onde a Igreja deve parar e refletir, olhando
para seus atos presentes, olhando para o passado e para as Escrituras. O Brasil
tem detenhorado cada dia mais. Violência, corrupção e injustiça são agora
praticadas em plena luz. Imoralidade e abominações tornara-se normais e
estimuláveis. Não há apreço pela vida humana em nossos governantes, e tampouco
em nosso povo. A Igreja, embora tenha crescido numericamente, é motivo de
chacota e vergonha. É insossa. Não consegue, embora com tantos membros,
produzir uma mudança sequer na sociedade. Estamos sendo literalmente pisados
pelos homens, e homens ímpios e imorais.
Quero
que notemos hoje a estrutura do texto que Jesus proferiu no sermão do monte.
Ali lemos “e se o sal for insípido, com
que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser
pisado pelos homens.” Note que o fato de o sal ter sido desprezado e
lançado fora e pisado pelos homens é consequência
do fato de que este sal foi insípido.
Segue-se, portanto, que precisamos olhar no passado as causas da nossa derrota
hoje.
É
de suma importância entendermos o papel que Deus destinou à Sua Igreja durante
os últimos dias, isto é, durante o tempo que se seguiria desde a vinda de Jesus
até seu Retorno em glória. Jesus disse no sermão da montanha que a Igreja é a “luz
do mundo”. Em seguida, o Senhor a compara a uma cidade edificada sobre um
monte, a qual é visível a todos, e a uma candeia acesa, que traz luz para todos os que estão na casa. O
propósito de tais descrições é explicar o caráter transformador que a Igreja de Cristo deve exercer na sociedade ao
ser redor. A linguagem de Jesus indica uma plenitude de influência, isto é,
influência em todas as áreas. Veja,
por exemplo, que a candeia não ilumina apenas um canto da casa, antes, por
estar posta no topo, esta tem o poder de iluminar toda a casa. A casa e os que nela estão são o mundo e suas nações.
A
Igreja Cristã historicamente tem entendido seu papel de transformação da sociedade. Ao invés de demonizar a cultura, as
artes, a política e os negócios é dever da Igreja afastar a influência do
pecado nestas áreas, redimindo-as e subjugando-as ao padrão eterno de ética e
santidade, que é o próprio Deus. E, evidentemente, conhecemos este padrão pela
Sua Lei expressa de forma perfeita nas Escrituras.
Um
grande exemplo deste pensamento já encontramos cedo na história, ainda na
antiguidade, quando a Igreja era perseguida e esmagada pelos Césares de Roma.
Tamanho era o orgulho de tais imperadores que a si mesmos se declaravam Deus e
exigiam adoração de seus súditos. Evidentemente, o ódio aos cristãos da época
era explicado pelo fato de que eles se negavam a adorar César como Deus. Mesmo
em face da morte, não amaram a própria vida. Mesmo em face do questionamento
final “quem é teu senhor?” de um soldado pronto a usar sua espada, o cristão da
época respondia “Jesus Cristo é o Senhor”. A força destas palavras é sobremodo
reveladora. Pois sabemos que Jesus havia dito, pouco antes de ascender aos
céus, que todo o poder havia sido dado a Ele no céu e na terra (Mateus 28:18). Paulo
ainda ensinou que convém que Cristo reine dos céus até ter todos os inimigos
postos debaixo de seus pés, aniquilando toda força contrária ao Seu governo.
Por isso mesmo lê-se “Depois virá o fim,
quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo
o império, e toda a potestade e força. Porque convém que reine até que haja
posto a todos os inimigos debaixo de seus pés.” (1 Coríntios 15:24-25). A
cosmovisão cristã de Paulo era, então, a seguinte: Cristo já Reina em poder e autoridade absolutas e só retornará a este
mundo depois que toda autoridade
contrária a Ele for conquistada e vencida. E temos visto no decorrer do tempo
muitos inimigos de Cristo se levantarem e serem abatidos. Sem dúvida Roma era
um deles. O Concílio de Nicéia foi o evento mais importante da antiguidade. O
que aconteceu ali foi uma humilhação do poder Romano e dos Césares. A Roma
invencível militarmente e que mantinha seu poder sobre o mundo governando com
mãos de ferro agora foi vencida, não por um exército de outra nação, mas pelo
Deus vivo e verdadeiro, o qual entregou à Sua Igreja os inimigos que a resistiam.
O
que nós crentes devemos entender é que existem apenas duas civilizações no
mundo: a
civilização de Deus, formada pelo seu povo remido, santo e vitorioso
tendo como Cristo o seu Rei e a civilização dos homens, cujo Rei é Satanás.
Somente uma vencerá no fim da história. E tal não é a civilização de Satanás. Qual é, pois, o papel da Igreja onde
ela é inserida? O papel da Igreja é salgar o mundo com sua doutrina, ensinar as
nações através de sua luz e ser um refúgio sólido no alto de uma montanha onde
tais nações encontrem justiça e salvação. Isto quer dizer que a Grande Comissão
entregue a nós por Cristo deve ser vista como uma ordem se subjugar às nações
ao domínio do Senhor. Para tanto, devemos fazer como fizeram nossos pais,
desafiando os ídolos de seu tempo em todas as áreas da vida humana, seja na
política, nos negócios, nas artes, educação, enfim, em tudo. Devemos ser ativos
culturalmente, não passivos ou isolacionistas.
Tendo
estabelecido esta base, olhemos agora para o que foi a Igreja brasileira desde
que aqui chegou. Durante muito tempo tivemos uma igreja santa, comprometida com
a salvação de pecadores sim, entretanto, uma igreja inerte culturalmente e
isolada. Por muito vivemos num mundo à parte, sempre demonizando coisas ao
nosso redor que deveríamos estar dominando.
Por muito temos vimos crentes no Brasil demonizarem a mídia e a tencnologia de modo
que por vezes tais afirmações seriam cômicas se não fossem trágicas. Como
resultado, nunca fizemos nada para também redimir
este tipo de atividade humana. Estávamos ocupados demais apenas com a salvação
dos homens e nos esquecemos que deveríamos glorificar a Deus em primeiro lugar.
E glorificá-lo inclui agirmos como embaixadores do Reino de Cristo, não
descansando enquanto houver lugares onde ele não tenha domínio e senhorio. Se
ele não tinha na televisão, que trabalhássemos para que tivesse. Se ele não
tinha na política, que o fizéssemos ter. Se ele não tinha na academia e
ciências, que nós crentes tomássemos este espaço também. O que fazíamos, entretanto,
era até mesmo olhar com maus olhos o estudo e a ciência.
Como
vimos, nós fomos insípidos por décadas. Sem gosto, inertes. Somos culpados
disso perante o Senhor. Satanás usou os seus para destruir nosso país e nós permitimos. Como resultado, até mesmo
nossa pureza interna foi destruída e tomada. Julgamento de Deus contra nós, sem
dúvida. Hoje temos uma igreja brulhenta, imoral, sem doutrina, apóstata e amante do mundo.
Nosso ativismo hoje é extremamente ineficaz. Os líderes levam o povo para uma
festa carnal onde crentes fazem barulho, pulam, cantam, gritam e adoram seus
ídolos da Central do Brasil até a Cinelândia ou na Avenida Paulista. Nós
achamos mesmo que isso fará a diferença? Tolos somos. Queremos conquistar com a
força de nosso braço. Esquecemos que é Deus quem nos dará a vitória.
A
resposta correta Deus nos diz e, contudo, não queremos ouvir. E ei-la no livro
de Crônicas, onde lemos “E se o meu povo,
que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se
converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os
seus pecados, e sararei a sua terra.” (2 Crônicas 7:14) Por que não, como
escreveu Ciro Zibordi por estes dias, fazermos uma marcha onde choremos e lementemos
pelo mar de iniquidade em que nosso país se encontra? Por que não reconhecermos
que se o Brasil está assim é porque nunca fomos o que deveríamos ser? Devemos
nos arrepender, ó Igreja brasileira, e chorar diante de Deus pelos nossos
pecados. Regeneração e arrependimento devem haver no meio do povo. E mudança de
cosmovisão também. E precisamos disso rápido, ou um dia será tarde demais.
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