Como a Eleição mudou minha
perspectiva sobre Salvação, sobre Cristo, sobre o Homem e sobre a Igreja.
Porque, não tendo eles
ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus,
segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que
chama)
Romanos 9:11
O que é eleição? Segundo a doutrina
reformada histórica, entende-se por eleição o ato soberano de Deus ocorrido
antes da fundação do mundo, no qual Ele, contemplando a raça humana caída
resolveu escolher para si um povo. Elegeu dentre os homens incontáveis
multidões, a fim de os chamar, regenerar, santificar e, por fim, glorificar
quando da ocasião de seu retorno.
Hoje, uma vasta maioria dos crentes
rejeitou e se afastou deste pensamento, embora até algum tempo atrás ele fosse
maioria entre as Igrejas Protestantes. Vê-se, porém, um retorno a esta doutrina
da parte de muitas pessoas, em especial muitos jovens. O motivo? Bom, se posso
inferir algo, eu diria apenas que é porque esta é uma doutrina bíblica, e Deus
está para trazer um grande retorno às Escrituras em nossos dias.
A mudança que ocorreu comigo não
pode ser resumida a uma troca de detalhes. Foi algo radical. Toda uma
cosmovisão tem sido mudada e realinhada. Não é apenas crer nos cinco pontos
arminianos e passar a crer nos calvinistas. Nem tampouco trocar Eleição
Condicional por Eleição Incondicional. Não é uma questão de adicionar ou
retirar prefixos. Quero deixar a você que lê este texto às bênçãos e mudanças
que a doutrina da Eleição trouxe em minha vida.
Salvação
Um
dos fatos que leva muitos a rejeitarem a doutrina da Eleição é o fato de que
esta vai de encontro a uma perspectiva errada de Deus partilhada por uma gama de crentes hoje em dia. Eles creem que Deus seria injusto se escolhesse
salvar uns e não outros. Afirmam, por isso, que Deus quer salvar a todos, e que
torna esta salvação alcançável a todo ser humano. Este deve, então, usar de seu
livre-arbítrio com o fim de aceitar ou recusar tornar-se para Deus. Eis alguns
problemas com esta visão:
·
Como
explica-se o fato de nações inteiras terem nascido, se desenvolvido e
desaparecido da face da terra sem sequer ouvir do Evangelho? Que oportunidade
tiveram eles de ouvir sobre Cristo?
·
Como
se coaduna esta ideia ao fato de que Deus é o Autor e Consumador de nossa fé?
Se eu aceito ou rejeito a Cristo, então minha salvação foi baseada na minha
escolha. Sem desejar, os que assim creem estão suportando um pensamento que
rouba a glória de Deus.
·
Como
se coaduna isto à pura doutrina que todo cristão sincero deve professar, a
saber, a doutrina da Expiação Substitutiva, ou seja, de que Cristo levou a Ira
de Deus na Cruz pelos nossos pecados e desde
então eles foram perdoados. Se assim for, como pode Deus ter levado os
pecados de toda a humanidade e condenar ao inferno os que não aceitarem? Como ficam
os que “aceitaram” e se desviaram? Esta pessoa será condenada pelo que? Se uma
vez crido os pecados não foram perdoados, destrói-se o Evangelho. Se foram,
então fica difícil crer numa doutrina que ensina que eu tenho liberdade de me
ligar ou desligar a Cristo quando eu bem entender.
·
Como
explicar a esperança que há em mim, se eu sequer posso estar certo de que
amanhã continuarei sendo crente?
Estes são somente alguns exemplos de
como minha cosmovisão anterior era frágil, pois não achava respostas sinceras e
bíblicas para estas perguntas. Hoje enxergo mais claramente o quão tremenda é a
soberania do nosso Deus! Quão inescrutáveis são seus caminhos! Enxergo mais
claramente o amor com que Ele me amou. Não fui salvo por que eu decidi ou por
que eu aceitei. Fui salvo pela Sua grande graça e misericórdia. Hoje eu afirmo com
o salmista sem medo “Os teus olhos viram
o meu corpo ainda informe; e no teu
livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram
formadas, quando nem ainda uma delas havia.” (Salmos 139:16)
Agora percebo com mais clareza a
necessidade urgente se proclamar o Evangelho aos quatro cantos desta terra,
pois o ser humano nasce perdido e condenado, sendo o Evangelho a sua única chance
dele vir a conhecer liberdade e salvação. Percebo que, se nações inteiras foram
derribadas sem ouvir de Cristo, Deus é justo e em sua justiça as condenou.
Valorizo portanto, cada vez mais, o fato de eu ter disponibilidade de ouvir e
falar do Evangelho. Isso é graça!
Cada detalhe da existência deste
universo foi criado e preordenado pelo Deus que creio. Sim, Deus é um kyrios despotes, um Senhor Soberano,
sim, um déspota! Faz tudo conforme lhe apraz. Que bom é confiar em sua vontade
e amor! Assim, afirmo com Paulo que ninguém jamais resistiu a sua vontade!
(Romanos 9:19).
Glorifico a Deus agora pela minha Salvação.
Não tenho parte nenhuma nisso. Não tivesse Ele me escolhido estaria em trevas até
então. Os eventos que me trouxeram até aqui são frutos de Sua soberana vontade!
A cada passo que dou estou cumprindo Sua vontade. Mesmo os pecados que cometo.
Sim, tudo predestinado, para Sua glória. Que Ele cresça e eu diminua. Que prevaleça
a vontade dEle, e não a minha. Esta é, sim, a oração que sempre será
respondida. Louvarei ao grande EU SOU eternamente, pois mesmo sendo pó, mesmo
sendo nada para que Ele em sua majestade se importasse comigo, hoje eu posso
dizer que pelo sangue do Seu Cordeiro eu sou livre da condenação que EU
merecia. Eu não escolhi isso, pois mortos não escolhem coisa alguma. Eu estava
morto em meus pecados e delitos. Mas o Espirito de Deus cumpriu o decreto
eterno e meu deu vida, levando-me a crer. Aleluia!
Cristo
Quem
é Cristo? O que Ele veio fazer? Hoje posso crer que Jesus veio fazer o que se propôs a fazer. Ele veio com uma missão
e a cumpriu. Não veio esperando salvar a humanidade. Ele veio salvar a todo o
que nEle crer. Veio cumprir o que determinou o Pai desde a Eternidade, Veio
morrer pelos pecados de Sua Igreja. Posso dizer como Isaias que “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e
ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a
muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si.” (Isaías 53:11)
Homem
E
quanto ao homem? Que parte cabe ao homem na cosmovisão bíblica? Davi responde “Que é o homem mortal para que te lembres
dele?” (Salmos 8:4). Somos nada! Somos pó! Mortos, inclinados eternamente
para o mal! Entenda isso! Em nenhum lugar as Escrituras dão a entender que
temos a capacidade de julgar entre o bem e o mal de forma neutra e escolher,
livremente, praticar o bem, inclinar nossa vontade para Deus. Hoje entendo que
nada fui nem nunca nada serei. Tudo o que tenho, tudo o que sou, vem de Ti,
Senhor!
Igreja
Na
cosmovisão arminiana, Deus apenas sabe quem se salvará, pacificamente. A Igreja
é, então, como um barco que convida a todos o que de fora estão se afogando a
entrar. O destino deste barco é o céu. Os que livremente entram no barco, podem livremente sair dele.
Muito tentadora esta concepção, porém, não é o que diz a Escritura. A Bíblia fala da Igreja como um edifício, o qual o próprio Cristo constrói. As pedras deste edifício são os crentes, os regenerados, nascidos de novo. Também diz a Palavra que ninguém nasce de novo caso não seja esta a vontade de Deus. Diz que a fé, que é o meio da nossa Salvação, não vem de nós; vem, porém, de Deus. Qual é o meu e o seu papel nisso? Nenhum.
A Igreja é a Noiva do Cordeiro, eleita desde antes da fundação do mundo, por quem Ele deu a vida, e por quem pagou com sangue os seus pecados. Esta Igreja era conhecida por Deus desde sempre. Sua extensão foi determinada uma vez e jamais será mudada. No fim, o trabalho estará completo, e o homem não terá influído em nada. Nem mesmo um centímetro da obra e do plano original foi mudado ou impedido, muito menos atrasado.
Espero que esta reflexão possa ter ajudado a compreender melhor o que é eleição e como essa maravilhosa doutrina influi na cosmovisão cristã. Paz de Cristo a todos!
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