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sábado, 12 de março de 2011

A Religião Evangélica - J. C. Ryle

A Religião Evangélica, um Manifesto escrito por John Charles Ryle, que foi o 1º Bispo da Diocese de Liverpool, da Igreja da Inglaterra. Ele sempre lembrava o texto bíblico, “para aprovardes as coisas excelentes” (Fp 1:10)

I. PRINCÍPIOS Evangélicos

1. A supremacia absoluta das Santas Escrituras

Nos mostre qualquer coisa, escrita claramente, naquele Livro, nós o receberemos, acreditaremos, e nos submetermos a isso. Nos mostre qualquer coisa contrária àquele Livro, e ainda que seja sofisticado, plausível, bonito e aparentemente desejável, não o teremos por nada.

2. A doutrina do pecado e corrupção humanas

O homem está radicalmente doente. Eu creio que a ignorância da extensão da Queda, e de toda a doutrina do pecado original, é uma das grandes razões porque tantos não podem nem entender, apreciar, nem receber a Religião Evangélica.

3. A obra e serviço de nosso Senhor Jesus Cristo

O eterno Filho de Deus é nosso Representante e Substituto. Nós sustentamos que o povo deve ser continuamente orientado a não fazer um Cristo da Igreja.
Nós cremos que nada nunca é exigido entre a alma do homem pecador, e Cristo o Salvador, mas a fé simples como de uma criança.

4. O trabalho interior do Espírito Santo

Nós sustentamos que as coisas que mais precisam ser apresentadas e reforçadas na atenção dos homens são as grandes obras do Espírito Santo – arrependimento interior, fé, esperança, ódio ao pecado, e amor à lei de Deus. Afirmamos que dizer aos homens para terem conforto em seu batismo ou membresia na igreja enquanto essas graças absolutamente importantes são desconhecidas, não é meramente um erro, mas crueldade intencional.

5. O trabalho Externado e Visível do Espírito Santo na vida dos homens
Sustentamos que dizer a um homem que ele é “nascido de Deus” ou regenerado, enquanto vive em descuido ou pecado, é uma ilusão perigosa.
É a posição que tomamos nestes cinco pontos que caracteriza grandemente a teologia Evangélica. Dizemos corajosamente que elas são coisas primeiras, principais, chefes e governantes no cristianismo.

II. PROTESTOS Evangélicos

1. Nós protestamos contra a prática moderna de primeiro personificar a Igreja, e então divinizá-la, e finalmente idolatrá-la.

2. Nós nos recusamos a admitir que Ministros Cristãos sejam, em qualquer sentido, sacerdotes que sacrificam.
Percebemos que sacerdotismo ou sacerdócio tem sido freqüentemente a maldição da cristandade, e a ruína da verdadeira religião.

3. Nós Nos recusamos a admitir que os Sacramentos de Cristo transmitem graça por si mesmos.
Nós protestamos contra a idéia de que no batismo o uso da água, no Nome da Trindade, é invariável e necessariamente acompanhada pela regeneração. Nós protestamos contra a idéia de que a Ceia do Senhor é um sacrifício. Sobre tudo, nós protestamos contra a noção de qualquer presença local do corpo e sangue de Cristo na Ceia do Senhor, nas formas de pão e vinho, como “idolatria a ser abominada por todos os cristãos fiéis”.

4. Nós nos recusamos a nos juntar ao clamor, “sem bispo, sem igreja”. “[sem bispo, não há igreja]”
Nós nos recusamos a crer que bispos são infalíveis, ou que suas palavras devem ser cridas quando não estão em harmonia com as Escrituras.

5. Nós sustentamos que não pode haver real união sem unidade na fé.
Nós protestamos contra a idéia de união baseada num episcopado comum, ao invés de uma fé comum no Evangelho de Cristo. Nós abominamos a própria idéia de re-união com Roma, a não ser que a própria Roma primeiro purge-se de suas muitas falsas doutrinas e superstições.

III. PERSUASÕES Evangélicas

1. Substitua Cristo por qualquer coisa, e o Evangelho está totalmente estragado!

2.Adicione qualquer coisa a Cristo, e o Evangelho deixa de ser um Evangelho puro!

3.Coloque qualquer coisa entre os homens e Cristo, e os homens irão negligenciar a Cristo por aquilo que foi
colocado!

4. Destrua as proporções do Evangelho de Cristo, e você arruinará sua eficácia!

5. A religião Evangélica deve ser o Evangelho, todo o Evangelho e nada além do Evangelho.

IV. PRÁTICAS Evangélicas

“Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos.” (I Co 16:13)

1. Esforce-se para que a religião pessoal seja completa e totalmente Evangélica.
O mundo está possuído por um demônio de falsa caridade sobre religião.

2. Não comprometa princípios Evangélicos.
Tome bastante cuidado com novas decorações de igreja, nova música de igreja, e um modo quase histérico
de realizar adoração na igreja.

3. Observe que eles não fazem nenhum bem real, os que misturam pregação Evangélica com cerimônias rituais.
O mundo nunca será ganho por flerte e comprometimento; ao se usar ambas as formas, e tentar agradar a todos.

4. Encare o perigo com coragem e lute com ele usando a mesma Palavra que Cranmer, Latimer e Ridley usaram para lutar.

5. O caminho do dever é limpo, claro, e inconfundível. União e organização de todos os homens Protestantes e Evangélicos, exposição incansável das negociações papistas de nossos antagonistas do púlpito, palco e imprensa.

Eu digo, “Não se renda! Não deserte! Não comprometa! Nada de paz desgraçada!”.


Fonte: http://igrejaanglicana.com.br/archives/um-manifesto-evangelico/

quinta-feira, 3 de março de 2011

A Cruz de Cristo - J. C. Ryle


O que você pensa acerca da cruz de Cristo? Talvez você considere esta questão como algo de somenos importância; não obstante, dela depende intensamente o bem-estar eterno de sua alma.

Há mil e oitocentos anos atrás, houve um homem que disse gloriar-se na cruz de Cristo. Foi alguém que revirou o mundo de cabeça para baixo pelas doutrinas que pregava. De todos os homens que já viveram neste mundo, foi ele quem mais contribuiu para o estabelecimento do Cristianismo. E mesmo assim, foi este homem quem disse aos Gálatas:

“Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”, Epístola de Paulo Aos Gálatas 6.14

Leitor, a “cruz de Cristo” deve ser um assunto verdadeiramente importante para que um apóstolo inspirado fale de tal forma sobre ela. Deixe-me tentar demonstrá-lo o verdadeiro significado desta expressão. Uma vez reconhecendo o que significa a cruz de Cristo, com a ajuda de Deus você se tornará capaz de perceber a importância dela para a sua alma.

A palavra cruz, na Bíblia, algumas vezes faz referência à cruz de madeira na qual o Senhor Jesus foi cravado e posto para morrer, no Calvário. Isto é precisamente o que São Paulo tinha em sua mente quando falou aos Filipenses que Cristo “foi obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2.8). Contudo, esta não era a cruz na qual São Paulo se gloriava. Ele esquivar-se-ia com horror da idéia de gloriar-se em um mero pedaço de madeira. Eu não tenho quaisquer dúvidas de que ele denunciaria a adoração católica romana do crucifixo como profana, blasfema e idolátrica.

A cruz, em outras vezes, é atinente às aflições e provações que os crentes atravessam pela causa da religião que professam, quando seguem a Cristo fielmente. Este é o sentido no qual nosso Senhor usa a palavra, quando diz: “Aquele que não toma a sua cruz, e segue-me, não é digno de mim” (Mt 10.38). Este também é o sentido no qual Paulo usa a palavra quando escreve aos Gálatas. Ele conhecia bem esta cruz. Deveras, ele a carregava pacientemente; no entanto, também não é sobre isto que ele está falando aqui.

Mas a palavra cruz também se refere, em alguns outros lugares da Escritura, à doutrina de que Cristo morreu pelos pecadores sobre a cruz, - a expiação que Ele fez pelos pecadores, por Seus sofrimentos em favor deles sobre a cruz – o completo e perfeito sacrifício pelo pecado que Jesus ofereceu quando deu Seu próprio corpo para ser crucificado. Em suma, este termo, “a cruz”, aponta para Cristo crucificado, o único Salvador. Este é o significado no qual Paulo usa a expressão, quando fala aos coríntios: “A pregação da cruz é loucura para os que perecem” (1 Co 1.18). E este também é o significado do que ele escreveu aos Gálatas: “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”. Ele está dizendo simplesmente isto: “Eu não me glorio em nada mais, exceto em Cristo crucificado, como a salvação de minha alma”.

Leitor, Jesus Cristo crucificado era a alegria e o deleite, o conforto e a paz, a esperança e a confiança, a fundação e o lugar de descanso, a arca e o refúgio, o alimento e o remédio da alma de Paulo. Ele não considerava que teria de executar algo por si mesmo ou padecer por si mesmo. Ele não era mediado por sua própria bondade e nem por sua própria retidão. Ele amava pensar naquilo que Cristo havia feito, e naquilo que Cristo havia sofrido - a morte de Cristo, a justiça de Cristo, a expiação de Cristo, o sangue de Cristo, a obra finalizada de Cristo. Nisto, sim, ele se gloriava. Este era o sol de sua alma.

Este era o assunto que sobre o qual ele amava pregar. O apóstolo Paulo foi um homem que percorreu a terra proclamando aos pecadores que o Filho de Deus havia derramado o sangue de Seu próprio coração para salvar-lhes. Ele caminhou por todos os lugares neste mundo falando às pessoas que Jesus Cristo as amava, a ponto de morrer pelos seus pecados sobre a cruz. Observe como ele diz aos coríntios: “Eu vos entreguei o que primeiro recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados” (1 Co 15.3); “eu me determinei a não saber de qualquer coisa entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.2). Ele – um blasfemo, fariseu perseguidor – havia sido lavado no sangue de Cristo; de tal modo a não poder deixar de sustentar sua paz sobre este sangue. Por isso ele nunca se cansava de falar da história da cruz.

Este foi o tema sobre o qual ele amava alongar-se quando escrevia aos crentes. É maravilhoso observar como suas epístolas geralmente são repletas dos sofrimentos e da morte de Cristo - como elas discorrem sobre "pensamentos que inspiram e palavras que ardem" sobre o amor e o poder das agonias de Cristo. Seu coração parece cheio deste assunto: ele discorre sobre isto constantemente e retoma o tema continuamente. É o fio de ouro que perpassa todo seu ensino doutrinário, e todas as exortações práticas. Ele parece pensar que mesmo para o cristão mais maduro nunca é demais ouvir sobre a cruz.

Foi sobre isto que ele viveu toda sua vida, desde o tempo de sua conversão. Ele diz aos gálatas: “A vida que agora eu vivo na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, o qual me amou, e a si mesmo se deu por mim” (Gl 2.20). O que o faz tão forte para o labor? O que o faz tão disposto para a obra? O que o faz tão incansável em esforçar-se para salvar alguns? O que o faz tão perseverante e paciente? Eu vou dizê-lo, qual o segredo disto tudo. Ele sempre se alimentava pela fé do corpo de Cristo e do sangue de Cristo. Jesus Cristo foi a comida e a bebida de sua alma.

E leitor, você pode estar convicto de que Paulo estava correto. Confiar nela, isto é, na cruz de Cristo, - a morte de Cristo sobre a cruz para fazer a expiação pelos pecadores – é a verdade central ao longo de toda a Bíblia. Esta é a verdade que encontramos logo ao abrirmos no livro do Gênesis. A semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente - isto não é outra coisa senão uma profecia de Cristo crucificado. Deveras, esta é a verdade que brilha, por trás do véu, em toda a lei de Moisés e na história dos judeus. Os sacrifícios diários, o cordeiro pascal, o contínuo derramamento de sangue no tabernáculo e no templo - tudo isto são sombras do Cristo crucificado. E esta é a verdade que também vemos ser honrada na visão do céu, antes do fechamento do livro das Revelações: “Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto”(Ap 5.6). De fato, mesmo em meio à glória celestial nós encontramos uma visão de Cristo crucificado. Tire a cruz de Cristo, e a Bíblia será um livro obscuro. Ela seria como os hieróglifos egípcios, sem a chave que interpreta o seu significado – curiosa e maravilhosa, mas sem qualquer serventia real.

Leitor, observe bem o que eu lhe digo. Você pode conhecer uma boa porção da Bíblia. Pode conhecer os contornos das histórias nela contidas, e até a data dos eventos que a Bíblia descreve, assim como alguém pode conhecer a história da Inglaterra. Você pode conhecer os nomes dos homens e mulheres nela mencionados, assim como um homem conhece César, Alexandre o Grande, ou Napoleão. Você pode conhecer vários preceitos da Bíblia, e os admirar, assim como um homem admira Platão, Aristóteles, ou Sêneca. Mas se você ainda não descobriu que Cristo crucificado é o fundamento de cada livro, você tem lido a Bíblia até agora de modo muito pouco proveitoso. Sua religião é um céu sem um sol, um arco sem um fecho, um compasso sem uma agulha, um relógio sem molas ou valores, um candeeiro sem óleo. Ela não o confortará. Ela não livrará a sua alma do inferno.

Leitor, observe mais uma vez o que eu lhe digo. Você pode conhecer bastante acerca de Cristo, tendo alguma espécie de conhecimento intelectual. Você pode conhecer bem quem Ele foi, e onde Ele nasceu, e o que Ele fez. Você pode conhecer Seus milagres, Suas falas, Suas profecias, e Suas ordenanças. Você pode saber como Ele viveu, como Ele sofreu, e como Ele morreu. Contudo, pode-se conhecer o poder da cruz de Cristo experimentando-o; deveras - a menos que você saiba e reconheça que aquele sangue derramado sobre a cruz lavou seus próprios pecados particulares, e a menos que você esteja disposto a confessar que sua salvação depende inteiramente da obra que Cristo realizou sobre a cruz -, se não for esse o seu caso, Cristo não lhe será em nada proveitoso. Sim, o mero conhecimento do nome de Cristo jamais o salvará. Você deve conhecer a Sua cruz e o Seu sangue, ou então acabará morrendo em seus próprios pecados.

Leitor, enquanto você viver, tome cuidado com uma religião na qual não se ouve muito da cruz. Você vive em tempos nos quais a cautela, lamentavelmente, é necessária. Cuidado, eu repito, com uma religião sem a cruz.

Há centenas de lugares de adoração nestes dias, nos quais se encontram quase todas as coisas, exceto a cruz. Há carvalhos gravados, e pedras esculpidas; há vidros coloridos, e pinturas esplêndidas; há serviços solenes, e uma constante série de ordenanças; mas a cruz real de Cristo não há. Jesus crucificado não é proclamado no púlpito. O Cordeiro de Deus não é exaltado, e a salvação mediante a fé n’Ele não é livremente proclamada. E, por conseguinte, todos estes lugares estão em erro. Leitor, acautele-se de tais lugares de adoração. Eles não são apostólicos. Eles não haveriam de satisfazer a São Paulo.

Há milhares de livros religiosos publicados hodiernamente, nos quais se acham quase todas as coisas, exceto a cruz. Eles são plenos de direcionamentos sobre os sacramentos, e louvores da Igreja; eles abundam em exortações para uma vida santa, e em regras para a consecução da perfeição; eles apresentam fartura de fontes e cruzes, tanto interna quanto externamente; mas a cruz real de Cristo é deixada de fora. O Salvador e Seu amor agonizante tampouco são mencionados, ou o são de um modo anti-escriturístico. E, por conseguinte, todos estes livros são piores do que imprestáveis. Eles são não apostólicos. Eles jamais satisfariam a São Paulo.

Leitor, São Paulo não se gloriava em nada mais, a não ser na cruz. Esforce-se para também ser assim. Coloque Jesus crucificado sempre diante dos olhos de sua alma. Não ouça qualquer ensino que interponha algo entre você e Ele. Não caia no antigo erro dos gálatas. Não pense que alguém nestes dias seja melhor guia do que os apóstolos. Não se envergonhe das antigas veredas, nas quais percorreram homens que foram inspirados pelo Espírito Santo. Não deixe que a conversa vazia de homens que proferem grandes palavras dilatadas sobre a catolicidade, e a igreja, e o ministério, perturbem a sua paz, e o façam despreender-se da cruz. As igrejas, os ministros e os sacramentos são todos importantes a seu próprio modo, mas eles não são Cristo crucificado. Não dê a glória de Cristo a nenhum outro. “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.

Leitor, pus tais pensamentos diante de sua mente. O que você pensa agora sobre a cruz de Cristo? Eu não posso dizer; mas não posso desejar a você algo melhor do que isto – que você possa ser capaz de dizer com o apóstolo Paulo, antes de você morrer ou apresentar-se ao Senhor, “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”. Amém.

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/cruz/cruz_ryle.htm




Nota sobre o autor: J.C. Ryle, foi um bispo anglicano contemporâneo ao grande pregador Charles Haddom Spurgeon e que desponta como um dos mais eminentes representantes da fé genuína no século passado com pregações bíblicas e estudos reconhecidos por todo o mundo onde se encontra a verdadeira Igreja de Cristo. "Em sua época ele era famoso, notável e amado como campeão e expositor da reformada fé evangélica. O bispo Ryle fartou-se profundamente das fontes dos grandes escritores puritanos clássicos do século XVII. De fato, seria apenas falar com precisão se disséssemos que seus livros destilam a verdadeira teologia puritana, apresentada sob uma forma moderna e de fácil leitura"(D.M.Lloyd-Jones)